As vendedoras ambulantes em Luanda, para além de viverem no limiar da pobreza, sustentarem marido e filhos, fugirem aos fiscais, aos gatunos e até aos agentes da polícia, têm agora mais um problema: cães polícias.
Por Sedrick de Carvalho
Insensível ao drama das inúmeras famílias angolanas que apenas lutam para sobreviverem diariamente graças aos produtos que vendem nas ruas, o governo provincial de Luanda decidiu soltar cães atrás de todos os que insistem em viver honestamente da venda ambulante, prática conhecida em Angola por zunga.
Os cães, mais bem alimentados em relação aos agentes-colegas que os conduzem em direcção às vítimas, não hesitam em morder seja quem for, até crianças que, como já é normal, também deambulam pelas ruas da capital mais cara do mundo vendendo diversos produtos e o seu futuro ao sol do dia.
O regime angolano não se importa com a formação destas crianças, mas os pais delas, com bastante sacrifício, alimentam-nas e pagam escolas privadas e precárias para que sejam ensinadas a ler e escrever, pelo menos.
O F8 foi ao mercado dos Congolenses, no distrito urbano do Rangel. Estávamos perto do Comando Provincial da Polícia Nacional em Luanda. O local é chamado por “arreiou-arreiou”, isto pelo afluxo de zungueiras que ali vendem os seus produtos a preços baixos.
A nossa equipa de reportagem ficou espantada por não ver a habitual confusão originada pelas zungueiras. Apenas os candongueiros dificultavam a fluidez do trânsito automóvel, mas, outro espanto, os agentes ao redor não incomodavam os “azuis e branco”, para alegria dos candongueiros.
Descemos até o edifício da empresa Tecomat e ali ficamos em pé. Mais de 20 cães com seus colegas homens a segurarem cordas ligadas às coleiras dos animais passaram por nós. Visivelmente, alguns cães arrastavam os agentes-colegas dada à sua robustez. Nesse ponto ainda tinha algumas zungueiras e zungueiros que teimavam em vender. Ali mesmo assistimos uma corrida frenética protagonizada por um cão-polícia a dois jovens zungueiros.
Um dos jovens tinha um pequeno cesto onde estavam alguns bolinhos. Pelo que percebemos, o zungueiro vende bolos naquela zona há muito tempo. O cão alcançou o zungueiro e cravou os dentes nos calções do jovem. A luta para se livrar do cão foi sem sucesso. Dois agentes aproximaram-se algemaram-no. O cesto de bolinhos estava no chão mas os bolos estavam intactos.
O exercício canino repetiu-se, numa corrida a outro zungueiro. Capturado por mais de três agentes como um criminoso altamente perigoso. Foi algemado e preso ao anterior detido.
Um subinspector da polícia puxou o telemóvel do bolso, afastou-se dos jovens, e começou a filmar os zungueiros enquanto caminhavam em direcção ao carro-cela da polícia. Era como se tivessem detido gatunos do dinheiro destinado à compra de medicamentos para hospitais.
Intimidados, não conseguimos filmar nem fazer fotografias devido ao aparato policial instalado no local. Conseguimos falar com uma zungueira. Com dois enormes sacos de gindungo nos braços, Jorgina contou-nos que “assim mesmo não vamos conseguir vender hoje”.
Perguntamos à senhora se, face à situação, retornaria a casa. “Filho, vou ficar aqui. Estou só a ganhar coragem para estender o meu negócio. Eles é que sabem”.
Insistimos, e ela respondeu: “isso não é nada. Se fosse cavalo ainda… eu teria medo. Cavalo é grande. Esses cães ainda dão para lutar com eles”.
A senhora contou-nos como, certo dia, enfrentou os cavalos do governo. “Tentei correr mas caí. O cavalo veio mesmo à minha frente. Eu só disse ´morri, pai´. O cavalo travou e eu fiquei a olhá-lo, ele bem alto. Naquele dia escapei”. Separamo-nos da senhora, que correu ao ver agentes e cães aproximarem-se.
O “terrorismo social” protagonizado há 41 anos pelo MPLA parece não ter fim à vista. Os pobres continuam a ficar mais pobres e com cicatrizes no corpo que mostram o quanto são maltratados por quem diz trabalhar para o seu bem-estar.
Fotos de Arquivo
São mulheres sacrificadas, dão o seu melhor para venderem e ganharem a vida e devemos respeitar. Mas verdade seja dita, muitas delas vendem em lugares inapropriados, até perigosos. Vocês podiam fazer campanhas e incentivá-las a venderem em locais devidamente preparados para o efeito.
É semelhante ao tempo dos Nazis ! Incrivel ! O Povo esta fobado e fatigado e esses dimpuanas perseguem as Mboas que levam o papeu para os filhos ….. é triste de se ouvir e ver que esse Governo de Gatunos viciados em Caporroto e Kimbombo nada fazem de bem . O dia avizinha-se e ai eles que se preparem para correr porque nenhum esconderijo sera seguro para esses Cleptomaniacos!